MARCELO FRAZÃO DISCUTE OS LIMITES ENTRE CORPO E ESPÍRITO EM POEMAS DE NOVO LIVRO
Os poemas que compõem Cinco Rios, vagam por águas de fluxo intenso, onde os lemes da emoção e da sensorialidade se encontram, comunicam-se e, não raro, se confundem em suas intenções de amor, prazer, apego, negação ou indiferença ao mundo. O livro integra a coleção de poesia da editora Villa Olívia, que já lançou livros de poetas relevantes no cenário baiano, como Ordep Serra, Rita Santana, Sandro Ornellas e Nilson Galvão.
Inspiração – O autor Marcelo Frazão conta que a ideia para escrever Cinco rios surgiu em 2022, ao escutar a ópera “Orfeu e Eurídice”, de Gluck, e pensar que a descida de Orfeu ao Hades, para resgatar sua amada, guarda um interessante paralelo com a narrativa bíblica sobre a destruição de Sodoma e Gomorra. Tanto Orfeu quanto Lot e sua família recebem a recomendação de não olhar para trás. Caso o fizessem, estariam sujeitos a uma punição severa. Aqui, reside o desafio para o sujeito: o de se descobrir preso a um passado, seja ele a memória de vivências felizes ou trágicas, e não saber como dele escapar, como se entregar ao novo. Este é o ponto de partida de Cinco rios, seu cais.
Apresentando poemas com versos curtos e longos, Frazão trabalha diferentes cadências e possibilidades rítmicas dentro do léxico de suas águas, deslocando ou amplificando significados, explorando seus estados líquido, gasoso e sólido como rotas de destino para diferentes sensações. Os poemas possuem liberdade estilística e surpreendem o leitor pela adoção de imagens pouco usuais. Seu tom é intimista. O livro problematiza a questão da busca espiritual e o vazio com que nos deparamos diariamente. Embora os 79 poemas sejam todos numerados, a leitura pode se dar de maneira aleatória. A ordem numérica sugere apenas um dos tantos caminhos possíveis – a porta de entrada dentro do labirinto é, ao mesmo tempo, saída para outro labirinto –, o percurso de cada corpo em seu próprio tempo e espaço.