Adelice Souza aproxima Ásia, África e Brasil em novo e delicado trabalho
Trata-se de uma novela que refaz, por meio de um monólogo, o percurso de vida de uma mulher comum e,
ao mesmo tempo, singular, em sua busca por autonomia, amor e liberdade.
Se o nome Chica, no Brasil, deriva do apelido daquele que é considerado o “rio da integração nacional”, o
Velho Chico, pelos olhos e coração da personagem confluem e navegam Yemanjá e Ganga, deusas regentes, que dão à
sua existência um sendo outro, não-aparente, mais profundo e delicado, tanto no campo das emoções, onde ela se
descobre e se reconhece, quanto no simbólico, ao qual ela se apropria e mulplica por meio da arte.
Formalmente, pode-se dizer que este trabalho, considerando sua veia lírica, sua musicalidade, assume a linha
do drama-oração. “Sempre gosto que o teatro entre na literatura de alguma forma”, afirma a autora. E acrescenta,
depois: “O nome desta coleção acabou por me fazer lembrar de Bhishma, da tradição hindu, que vive a maldição (ou
graça ou bendição) de poder escolher a hora da sua morte. O argumento narravo segue este veredito maldito. Chica,
contudo, não se acha ‘maldita’ ao tratar da morte. A morte, para ela, não é uma maldição.”
Embora o texto, não seja de ordem autobiográfica, há um sul jogo de espelhos em sua tecitura. “Segui uma
escrita que elabora algumas questões pessoais: o meu luto de um amor, a minha profissão, o meu dia a dia. É a
narrava de uma personagem que não sou eu, mas da qual me sirvo, entrando e saindo da escrita. O teatro, para
Chica, representa uma cura. Ela vai ao teatro porque não há mais expectavas de buscar alegria no espaço-tempo que
vivencia”, ressalta Adelice. E, por fim, arremata: “A água, primeiro elemento do Thales de Mileto, hidrata e afoga. Há
tragédia nas enchentes do Acre, mas há gente ribeirinha que não desiste de cantar e dançar.”