Ordep Serra promove uma viagem lírica e existencial em “A um pássaro de
mim”.
Em “A um pássaro de mim”, Ordep Serra lança um olhar amoroso e telúrico de exaltação à
vida, revisitando não somente seu percurso íntimo, a paisagem humana onde se consolidou sua
sensibilidade de eterno e gozoso aprendiz, mas também fincando firmemente os pés no tempo
presente para, com inteligência e refinado humor, pensar o seu lugar e a sua condição de viajante
— que é a de todos nós, não raro insatisfeitos e maravilhados em igual proporção.
Em seus versos, o leitor navega embalado por um ritmo e intensidade precisos, o condutor
perfeitamente cônscio da afinação a empreender às cordas de seu instrumento e de sua
capacidade de envolver o ouvinte com o poder de sua imaginação.
Nas palavras do autor: “Este meu livro de poemas é fruto da música silenciosa que o
pensamento absorve quando cisma de dançar com as palavras, à luz das faíscas que a memória
lhe oferece enquanto se imagina; ou seja, nos momentos em que ela se deixa distorcer e fazer-se
outra, reconhecer-se outra, abrir-se à coisas e sentimentos cuja origem não conhece.”
Os temas se impõem com sutileza e vivacidade, evocando belezas naturais, paixões da
infância, festas populares, espantos físicos, política, sensualidade, imprecações, mistérios
humanos e divinos e tantas outras expressões e formas de ser e estar que se apresentam e se
renovam com o passar das páginas ou releituras.
O texto, escrito “a um pássaro de mim”, é uma experiência metafísica só possível mediante
a poesia. E, como todas as do seu extravagante gênero lírico, a experiência que nela se
apresenta se faz necessariamente inconclusa.
Por fim, Ordep afirma: “Na verdade, sempre me pareceu que os poetas são inventados por
sua poesia. Sou criatura deste livro, na medida em que ele me expõe, ou melhor, me lê. Espero
que os olhos dos leitores completem a criatura ainda em esboço.”
Sobre o autor:
Ordep Serra - é autor de mais de trinta livros publicados, abrangendo tanto o ensaio quanto a
prosa de ficção e a poesia. Helenista, traduziu obras de Sófocles, Eurípides e
Homero, sendo o primeiro a verter os Hinos Órficos para a língua portuguesa. Dos
prêmios nacionais conquistados, destacam-se o Prêmio Braskem da Academia de
Letras da Bahia, em 2010, pelo romance Ronda, e o Selo Literário João Ubaldo
Ribeiro, em 2014, pelo livro de contos A devoção do diabo. É bacharel em Letras e
mestre em Antropologia Social pela UNB, doutor em Antropologia pela USP, com
estágio no Centre Louis Gernet da École de Hautes Études em Sciences Sociales,
e pós-doutor em Letras (Criação Literária) pela UFBA. Em 2018 foi agraciado com
a medalha Mário de Andrade pelo IPHAN.